Empresário paulista Luiz Eduardo Batalha possui múltiplos negócios no Rio Grande do Sul, incluindo o cultivo de oliveiras e a produção do Azeite Batalha
Paulista, o empresário Luiz Eduardo Batalha escolheu o Rio Grande do Sul para concentrar grande parte dos seus negócios. “Se dependesse da minha mulher, a gente moraria no Rio Grande do Sul, menos quando faz frio”, brinca o empreendedor de 78 anos, revelando uma verdadeira paixão pelo Estado e pelo povo gaúcho.
Seu contato com a Região Sul iniciou pela sua relação com a agropecuária, que o levou a visitar anualmente a Expointer, em Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Com o tempo, investiu em gado, cavalos, ovelhas, oliveiras, energia renovável e vitivinicultura na Região da Campanha — apesar de deixar claro que não costuma consumir álcool, incluindo vinho.
Recentemente, iniciou um projeto turístico e residencial, o Terroir 31, com um investimento de R$ 50 milhões, que deverá ficar pronto até o final de 2025.
Apesar de considerar a Campanha uma região historicamente negligenciada pelos investimentos públicos e privados, muito pela questão da logística, Batalha sempre apostou na sua possibilidade de desenvolvimento. Tanto é que, em novembro de 2014, levou o então colunista do Jornal do Comércio Danilo Ucha, falecido dois anos depois, aos Estados Unidos para conhecer o Napa Valley. “Queria mostrar como imaginava nossa região no futuro”, explicou Batalha.
Nesta entrevista ao JC, o empresário comenta sobre seus múltiplos negócios no Rio Grande do Sul, apresenta uma avaliação sobre as possibilidades de desenvolvimento da Região da Campanha e analisa as mudanças percebidas no Estado desde que começou a investir em solo gaúcho. De acordo com ele, o turismo é uma das vocações brasileiras e deve crescer na porção Sul do Estado nos próximos anos.
Jornal do Comércio – Como iniciou sua relação com o Rio Grande do Sul?
Luiz Eduardo Batalha – Eu tenho uma relação muito interessante com Esteio, porque somos do agronegócio, criávamos cavalo e gado. Participava da Expointer desde 1975. A gente vinha de caminhão de São Paulo, trazendo os animais, tínhamos uma sede lá dentro. Então, eu tinha muitos amigos gaúchos. Era um período que a gente ficava uma semana em Esteio, chegava um pouco antes e saía um pouco depois (da feira).
JC – Mas nessa época já possuía outros empreendimentos?
Batalha – A nossa história começa em 1973, em Franca, no Estado de São Paulo, com a produção de café. Fomos crescendo, depois, no Mato Grosso do Sul, e ficamos com um rebanho bem grande, 50 mil cabeças, 65 mil hectares de terra. Eu achava que o Brasil tinha duas vocações naturais, o turismo e o agronegócio. E em 1976, abri o primeiro resort do País, em Barra Bonita, no interior de São Paulo, depois fizemos um outro hotel no Paraná.
JC – Como decidiu começar o primeiro empreendimento, na produção de café?
Batalha – Eu sou engenheiro mecânico de formação e natural de Santos, no litoral paulista. Mas veja como é o destino. Eu fui trabalhar na Bolsa de Valores de São Paulo e meu chefe era fazendeiro. Ele me levou para conhecer o café e aí comecei a seguir os padrões dele.
JC – E quando decidiu começar a investir no Rio Grande do Sul?
Batalha – O número de gado era muito grande, e aí começamos a fazer o confinamento de gado. Fizemos isso em Uberlândia, na época, com 48 mil (cabeças de gado da raça) angus. No confinamento começa a exigência, porque esse é o último passo para fazer um frigorífico. E aí você começava a ver que as raças que tinham aqui no Brasil não davam o acabamento que precisavam. Foi então que a gente entrou no angus, buscamos o número 1 no mundo, em Montana, nos Estados Unidos. Eu fui para o Rio Grande do Sul porque o angus precisava do clima, dos pastos e do frio do Rio Grande do Sul.
JC – Por que na Região da Campanha?
Batalha – Um amigo me convidou para vir para cá. Eu poderia ir para qualquer lugar do Rio Grande do Sul, mas decidi ir para a metade Sul, que é muito ligada à pecuária. Trouxe o angus, aí veio o cavalo crioulo, depois os ovinos…
JC – A plantação de oliveiras e a produção de azeites também?
Batalha – Numa visita ao (empresário Darcy) Miolo, que tem propriedade aqui do ladinho da minha fazenda (em Candiota), ele tentou me convencer a entrar no grupo de vinhos. E aí me mostrou umas oliveiras, que ele tinha trazido para fazer uma experiência. Elas já estavam com 3 anos e já produziam frutos. Foi então que me deu um estalo. Pensei, é aqui do lado, não preciso nem fazer teste. Fizemos um projeto e entramos forte, nos tornamos o maior produtor de azeite do País.
JC – Mas recentemente o senhor adquiriu a vinícola Batalha e entrou na produção de vinhos…
Batalha – Isso. O nosso negócio agora se chama Grand Terroir 31, porque nós estamos no terroir do paralelo 31. É um lugar mágico do vinho do mundo inteiro, que pega Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Só esses países pegam o paralelo 31.

Condomínio residencial e turístico de R$ 50 milhões em candiota deverá ser inaugurado até o final do anoDivulgação/JC
JC – Como negócios tão variados tiveram tanto sucesso?
Batalha – São variados, mas são todos interligados. E eu já tenho provas disso. Quando eu tinha 50 mil bois no confinamento, trouxe o Burger King para o Brasil, a segunda maior marca de fast food do mundo. Então, do boi, veio o Burger King. Todos os nossos negócios ficaram em cima das duas vocações, o agronegócio e o turismo.
JC – Recentemente, o senhor anunciou o Terroir 31 como um novo empreendimento imobiliário e turístico. Como está esse projeto?
Batalha – Vai ser bem pertinho de Bagé, já estamos com todos os terrenos com a papelada pronta, com a escritura definitiva, esperando só o lançamento que vai acontecer com certeza até o final do ano.
JC – Como vai funcionar o projeto para residência?
Batalha – Resolvemos fazer esse projeto gigantesco em uma das fazendas. Compramos a vinícola, que tinha que fazer parte desse projeto de 400 hectares, temos a indústria de azeite, com 30 mil árvores de 16 anos… Tudo pronto. Então, as pessoas vão comprando casas nesse condomínio e no quintal tem 30, 40 árvores e quem comprar vai poder produzir o azeite com a sua marca. O vinho é a mesma coisa, vão ter vinhedos próprios e poder produzir na nossa vinícola.
JC – E na parte de lazer e turismo?
Batalha – Reservamos uma área para isso. Tem uma linha de produtos, loções, shampoos e cremes de azeite, vai ter também de vinho, que são coisas da moda. Tem uma hípica, porque gostamos muito de cavalo. Vai ter um hotel com 49 cabanas, pequenas casinhas, com churrasqueira e jacuzzi. Vai ser algo gigantesco. É um programa para coroar essa história toda, toda a nossa vida vai ser voltada para o Rio Grande do Sul.
JC – Outro investimento é em uma fábrica de pellets para gerar energia pela queima de biomassa. O que ainda falta para ser concretizado?
Batalha – Já está tudo aprovado e estamos indo para a licença de instalação. Estamos chegando no fim desse caminho. Temos parceiros produtores de eucalipto, de pinus, de acácia negra, e vai ser um projeto muito grande. Então, está muito próximo. Estamos muito otimistas.
JC – O projeto já é de longa data…
Batalha – Eu estou nesse projeto há nove anos. É inacreditável. Tudo que tinha que ser feito a gente fez. Precisamos readaptar o projeto para adequar às exigências europeias para reduzir o efeito estufa.
JC – Tem algum outro investimento em vista para os próximos anos?
Batalha – Não, tenho 78 anos, agora quero ver esses dois investimentos funcionando. São projetos muito pesados para um grupo só como é o nosso, nós não temos sociedade. Estamos sendo chamados para fazer fusões, com pessoas querendo entrar no nosso negócio, mas tudo tem o seu devido tempo.
JC – O que já mudou na Região da Campanha desde que começou a investir nela?
Batalha – O Rio Grande do Sul se consolidou como um destino turístico, industrial, comercial e empresarial. Porto Alegre e região foram se adaptando. Vai entrar agora o projeto dos Data Centers em Eldorado do Sul. Toda essa modernização consome energia e por isso que falo em energia renovável. O Estado está crescendo muito. Agora, a região Sul, por natureza, sempre é mais abandonada, porque é mais difícil de logística. Eu tenho visto a cada governo uma preocupação maior com a metade Sul. As estradas estão ficando melhores e as linhas aéreas também. Quando comecei o negócio, as linhas aéreas não existiam, eu precisava ir a Pelotas.
JC – E qual a sua expectativa futura para a região?
Batalha – Acho que o turismo deve crescer. Não tem muito jeito. Se o turista quer conhecer o gaúcho de verdade, tomar um vinho de primeira categoria, tomar um azeite na fonte e comer uma carne de cordeiro espetacular, ele tem que vir para a Campanha. Só tem um lugar, temos nós. Agora nesse último governo iniciou um voo para Bagé, que é aqui perto. Podemos organizar uma limousine para buscar o visitante no aeroporto e trazer para o Terroir 31. São clientes sofisticados. Também estamos em uma região privilegiada para trazer turistas do Uruguai e da Argentina.